domingo, 15 de junho de 2008

A escola Estressada

Imagine se um cientista inventasse uma espécie de hormônio para crescimento vegetal que, aplicado à semente de uma rosa, faria com que a mesma rapidamente crescesse e, em segundos, estivesse em nossas mãos, prontas para uma oferta.
Invenção maravilhosa? Que nada! Mais parece descoberta maluca, pronta para ser atirada ao lixo das inutilidades evidentes. Pode existir algo mais belo que assistir a uma roseira adolescente que se abre em botão? Perceber, depois, devagarinho, que esse botão se abre ao sopro da brisa, à luz do amanhecer e com ternura faz-se mulher? é claro que não há nada mais lindo que o lento desabrochar e a descoberta de que a vida é aos poucos que se insinua e, por isso mesmo, se esse hormônio imbecil fosse criado, seria por certo depressa esquecido.
Mas nem sempre as inutilidades biológicas encontram destino igual às inutilidades educacionais. Pois não é que existem escolas que parecem ter inventado esse tal de hormônio do crescimento? São escolas onde tudo é programado para a pressa, para o agito, para a antecipação. Os alunos dessas escolas são cada vez mais estimulados a fazer as coisas de forma precoce e agitadamente. A rapidez é valor que se exalta e a quantidade meta que afoitamente se busca. Auxiliadas pela televisão, essas escolas alfabetizam mais cedo, despertam a sexualidade antes da hora, buscam ensinar antes que os outros e levam os alunos a associarem-se depressa a clubes e equipes adestradas para vencer. Nelas, a infância transcorre apressada, perversa, estressada e os conteúdos curriculares são comandados pelo frenesi da antecipação. Mal a infância começa, já não mais se permite imaginar loucamente, brincar-se de faz-de-conta, andar à toa, falar sozinho, buscar aprenderes que nasçam do interesse próprio e da curiosidade específica da idade. Para outra coisa o ano letivo não serve, senão para que se cumpra o volume esmagador de coisas apreendidas.
Escolas com essas características constituem perversão tão doentia quanto hormônios geradores de rosas de um dia só. É evidente que, quando dessas escolas se reclama, não se está proclamando uma outra sem conteúdo previsível, sem programação estabelecida, sem espaço para se desenvolver múltiplas competências e se explorar os signos maravilhosos de muitas linguagens. Mas, neste caso, não se deve confundir a ampliação de caminhos a propor, com a pressa e agito em sua proposição. Buscar novas formas de aprender, construir outras maneiras de ensinar não significa a supremacia do desespero sobre a calma, da volúpia da agitação sobre a serenidade do desabrochar.
O crescer de um ser humano guarda paralelos marcantes com o desabrochar de uma flor. Requer que se tenha sobre cada etapa, cada dia, cada descoberta, cada aventura, um ouvido pleno de empatia, um olhar carregado de paixão, uma ajuda sem pressa, marcada pela serenidade da ternura.

Celso Antunes " Relações interpessoais e auto-estima ".
Amei esse texto! Very Paz.

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